Nos anos sessenta Malba Tahan passou a tratar não apenas do ensino de matemática, mas da própria carreira de educador. Escrevendo ou organizando conteúdos de grandes mestres da educação, lançou uma coleção de livros sobre a profissão do professor, sua responsabilidade com a sociedade, seu comportamento ético e sua técnica pedagógica.
Desde os anos 30 do século passado o professor Julio Cesar de Mello e Souza escreveu dezenas de livros didáticos de matemática, para uso em sala de aula. E o grande sucesso popular de sua obra se deu também através da divulgação desta nobre ciência. Com o tempo esse papel de Educador foi se sofisticando ainda mais e em 1957 lançou, em dois volumes, a sua obra monumental “Didática da Matemática”.
Porém a partir 1967, em seis livros editados pela Casa Editora Vecchi, Malba Tahan deu uma contribuição impar para a pedagogia nacional. Foram obras de grande impacto e relevância no trabalho de valorização desta nobre profissão no Brasil, em uma época em que o grande desafio era a universalização do ensino fundamental. Época essa de grande expansão da rede de ensino. Entre 1960 e 1970 mais do que dobrou a quantidade estabelecimentos de ensino fundamental no país, que passaram de 2.709, em 1960, para 6.034, em 1970 (fonte MEC/SEDIAE/SEEC).
Em “O mundo precisa de ti, professor” editado em 1967 o mestre desenvolve uma vasta explanação sobre a ética profissional do Professor. E demonstra o significado e as condições necessárias para o exercício da profissão, como no trecho a seguir (pg. 27):
Ser professor não significa, de modo algum, ser transmissor de conhecimentos. Ser professor quer dizer substituir os pais na educação dos adolescentes, valendo-se das informações e da cultura, como meios, para atingir os fins da educação. Ser professor é encaminhar os alunos na formação integral de suas personalidades.
O exercício da profissão depende de uma série de requisitos essenciais: condições físicas, morais e sociais, inclinação para o magistério, cultura geral, preparo especializado e formação pedagógica.
Clique aqui e conheça mais algumas páginas do livro “O mundo precisa de ti, professor”.
Já em “A arte de ser um perfeito mau professor”, polêmico desde o título, também de 1967, Malba Tahan explora os comportamentos e técnicas que considera negativos e ultrapassados na didática exercida pelos, chamados por ele, P.M.P. – Perfeito Mau Professor (pg 31):
O P.M.P. tem a preocupação de iniciar a aula fazendo a chamada nominal da turma. E gasta, nessa chamada, dez ou quinze minutos que deveriam ser aproveitados para a motivação inicial ou mesmo para explicação de um tema qualquer, relativo ao assunto a ser estudado.
Terminada a chamada, lenta e enervante para a maioria da turma, o P.M.P. gasta, ainda, cinco ou dez minutos dirigindo aos adolescentes perguntas absolutamente inócuas ou fazendo observações cretinas:
Muito bem, Mario Roberto! Parabéns! De cabelo cortado bem aparadinho!
Clique aqui e conheça mais algumas páginas do livro “A arte de ser um perfeito mau professor”.
Ainda em 1967 casos, contos e comentários sobre os profissionais de educação são apresentados no livro “O professor e a vida moderna”. Onde também é estudo o método dos jograis em um caderno dirigido. O famoso conto “O Professor e a Borboleta” faz parte desta edição.
Em 1969 Malba Tahan edita pela Vecchi a coleção “BOM PROFESSOR”, começando com a “Antologia do bom professor”, onde são citados mais de 300 professores. O famoso educador Lourenço Filho assim se manifestou em relação à obra: “Ao apresentar esta Antologia, esclarece Malba Tahan que, preocupado com a tarefa de organizá-la, não o move o desejo de citar, apenas autores de renome e pedagogos mundialmente conhecidos. Muitos destes, como explicar, são de professores modestos, nada inexperientes e que enunciaram conceitos novos ou repensaram as lições dos maiores mestres, dando-lhes forma própria. Isso não retira destas notas de estudo seu grande valor. Pelo contrário. Em muitos casos, estas páginas põem em confronto e elaboração teórica e pedagógica realmente sentida e vivida nas escolas”. Colaborou nesse livro, como autora de pequeno capítulo, a Irmã Maria Luiza.
A antologia foi seguida na coleção pelo “Roteiro do bom professor”, 1969, onde o mestre apresenta todos os seus mestres. Citando trechos antológicos e de grande relevo de mais de 180 expoentes da arte didática, de Aristóteles a Rui Barbosa, passando por William A. Kelly e Anísio Teixeira, Malba Tahan traça um painel de centenas de assuntos pedagógicos e morais que ainda são atuais para o bom exercício do magistério. Sempre anexando um pequeno comentário seu sobre o tema. Veja abaixo o belo exemplo da página 161:
POSTULADO DA DIDÁTICA
Prof. Fiovo Euquinotti
Assim como na base da Geometria figuram os postulados, também na base da Didática encontramos um postulado famoso: É o postulado fundamental da Didática.
(comentário de Malba Tahan)Todos os educadores reconhecem que o trabalho do professor deve ser norteado pelo seguinte princípio:
Não há aprendizagem sem motivação.
Tal princípio constitui o chamado “postulado fundamental da Didática”.
Postulado é uma verdade que aceitamos sem prova, sem demonstração.
No caso da Didática o seu postulado é confirmado pela experiência, pelos resultados, pelo comportamento dos alunos.
(Ap. de Did., Curso da CADES).
Clique aqui e conheça mais algumas páginas do livro “Roteiro do bom professor”.
E também em 1969 é publicado o livro “Páginas do bom professor”, no qual o nosso autor apresenta trechos selecionados sobre pedagogia, notas, conceitos e observações notáveis. Eis como se manifestou, em relação a esse livro, o célebre educador baiano Anísio Teixeira: “Esta é uma Antologia diferente. Não é dos mestre oraculares e suas possíveis antecipações nos mistérios da Educação, mas admirável seleções dos pontos significativos do pensamento do educador e do professor. ‘Tudo neste livro é dos outros’, diz Malba Tahan no Prefácio; ‘tudo é dele’, direi eu, pois foi sua a escolha do trigo em meio ao joio, para oferecer-lhe, nestas páginas o panorama do possível consenso entremeado de lances das visões mais recentes do pensamento e das perspectivas dos educadores”.
Ps.: Matéria alterada em 21/02/2019 em função de indicações cronológicas fornecidas pela colaboração de Leandro Piazzon Corrêa.
Conteúdo altamente relevante.
Acredito que todo cidadão tinha que ler um artigo como esse.
Parabéns.
Ótimo trabalho!
Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
que tinha o que tanto procurava.
Gostei muito.
Meu muito obrigado!!!
Saudações fraternas.
Suponho que exista um equívoco no texto, pois não foi em 1966 que as obras didáticas foram publicadas. Apesar dos prefácios de Malba Tahan trazerem o ano de 1966, Caxambu-MG, os livros didáticos foram publicados somente em 1967, com uma possível segunda edição de A Arte de ser um perfeito mau professor em 1969, que não pude confirmar se foi realmente uma segunda edição ou reimpressão.
A coleção Roteiro do bom professor, sim, sai em 1969, porém a Antologia do Bom professor foi a primeira, e Roteiro e Páginas do bom professor saíram no mesmo ano, mas depois. Isso fica claro, pois no prefácio da Antologia do Bom professor, Malba Tahan diz que essa obra seria o complemento das outras três, deixando entender que seria a última obra com a Vecchi.
Obrigado pela colaboração. Verifiquei nas obras e realmente a Vecchi data como 1967 o ano de edição de “A arte de ser um perfeito mau professor” e “O mundo precisa de ti, professor”. Alteramos a matéria e a datação da bibliografia.