Notícias do escritor
Ali Yezzid Malba Tahan, Ali Yezzid Izz-edin Ibn-Salin Malba Tahan ou simplesmente Malba Tahan foi citado por poucos cronistas e escritores. Conheça a seguir algumas notícias sobre a vida e a obra do verdadeiro Malba Tahan registradas em livros e documentos raros.
Carta de Cl. Houart, 1921
“Pouco consegui apurar, porem, sobre a biografia do escritor. Sei apenas que Hank Malba Tahan vive ainda em Meca e, embora relativamente moço, tem na vida um rosário infindável de aventuras. Viveu doze anos em Manchester, onde o pai negociava com vinhos, esteve algum tempo na Rússia (antes da guerra), com uma empresa de saltimbancos, ali, perde-se o fio da sua vida (consta que andou preso por suspeito de espião) até que reaparece na Pérsia, na Índia e em Shangai, sucessivamente. Na Índia, leu as obras de Kipling: muitas passagens de seus contos denunciam a influência desse escritor. Ahmed possui exemplares do “Roba el-Khali” e do “Al-Saneir”. Já tratei de adquirir esses livros e os demais, intitulados: “Mil histórias sem fim”, “Contos árabes” e “Mártires da Armênia”. Como sabes, não sou forte em crítica (livre-me a Providência de tal pretensão!), mas sempre consegui apurar que Malba Tahan é admirador de Kipling, Doyle, Poe e Rosny. Ahmed conheceu-o pessoalmente em Meca, há cerca de seis anos, e disso tira grande orgulho. Disse-me que agora ele está se consagrando às literaturas orientais: tem grande admiração por Omar Khayam, sabe de cor o Rubayat e estudou o bengali só para ler Tagore. É curioso que um árabe como Malba Tahan comece lendo Kipling para acabar em Sheerezade!” Carta publicada no “Short Stories Magazine”, Filadélfia, USA.
Relato de Olegário Mariano, 1929
“Em torno da vida misteriosa do escritor árabe Malba Tahan, têm sido feitas várias pesquisas. Sabe-se apenas por informações um pouco vagas, que Ali Yezid Ibn Salim Hank Malba Tahan viveu em Meca depois de haver permanecido doze anos em Manchester, onde o pai exercia a honesta profissão de vendedor e vinhos. Tendo visitado a Rússia antes da guerra com um bando nômade de saltimbancos, desaparece, como por encanto, ressurgindo na Pérsia, na Índia, em Xangai e finalmente – quem diria – no Brasil. A despeito da vida solitária que o evocador de “Céu de Allah” vai levando na nossa cidade, algumas pessoas o conhecem através da fatiota moderna e do nome postiço. Eu, entretanto, que tenho a honra de privar da intimidade desse árabe estranho de grandes olhos pestanudos, julgo de meu dever acrescentar alguma coisa à sua enevoada biografia. A nossa convivência é tão íntima que ainda há poucos dias ele teve a franqueza de mostrar-me, à altura do peito, um pouco acima do coração, a cicatriz que uma lança lhe abrira quando, em julho de 1921, nos arredores de El-Riad, lutava como um novo Antar do século XX, pela liberdade de uma pequena tribo perdida na Arábia Central. Não me envergonho de confessar que poucos homens encontrei na vida com o poder de imaginação, a graça e o sentimentalismo desse excêntrico esbanjador de moedas de ouro. Quando nos serões de sua casa solitária, fala das coisas e da gente do seu país, parece que Allah derrama sobre os seus olhos a doçura de todas as carícias e põe nas suas palavras a magia dos grandes ensinamentos. Éle é heroico ao mesmo tempo. Dá gosto ouvi-lo! Como encanta ler os contos que ele derrama de mãos cheias. Lembro-me como se fosse hoje, da noite em que nos encontramos. Não tenho autorização para declinar o nome de quem nos aproximou. Ouso apenas dizer que foi uma mulher, sua companheira de viagem e minha velha amiga. Creio que havia entre ambos mais do que a camaradagem de alguns dias de bordo, porque ela, caminhando ao nosso lado pela Avenida Beira-Mar, não podia esconder a emoção com que ouvia as histórias que ele contava. Quando nos despedimos, Malba Tahan, dando-me a mão, disse-lhe: – Quando Allah quer bem a um de seus servidores, abre para ele as portas da inspiração! Desde essa noite, esse árabe estranho caminha comigo na vida… As caravanas que passam não se apercebem de nós. Em compensação, Allah não conversa com elas e conversa conosco, espalhando no manto da noite, para a alegria dos nossos olhos, uma porção de estrelas maravilhosas.”
Notícias em livros:
“Hank Malba Tahan, famoso escritor árabe, filho do rico muçulmano Salin Malba Tahan, nasceu na cidade de Meca, quando sua família ai se achava em peregrinação. Viveu durante doze anos em Manchester, Inglaterra. Percorreu a Rússia, a China, a Pérsia e a Índia. Escreveu varias obras de grande valor: “Roba el-Khali“, “Mil histórias sem fim“, “Tempo de guerra“, etc. Manteve, durante algum tempo, correspondência literária com Anatole France, Rudyard Kipling e com o notável filólogo francês Prof. Gaudefroy Demomynes. Morreu em combate (julho de 1921), nos arredores de El-Riad, lutando pela liberdade de uma pequena tribo da Arábia Central.” Do livro Crestomathie Arabe, A.Van Gennep.
“Malba Tahan fez seus primeiros estudos no Cairo e, mais tarde, transportou-se para Constantinopla, onde concluiu oficialmente seu curso de Ciências Sociais. Datam dessa época os seus primeiros trabalhos literários que foram publicados, em idioma turco, em diversos jornais e revistas. A convite de seu amigo o Emi Abd el Azziz ben Ibrahin, exerceu Malba Tahan, durante vários anos, o cargo de “quaimaquam” (prefeito) na cidade de El-Medina, tendo desempenhado as suas funções administrativas com rara inteligência e habilidade. Conseguiu, mais de uma vez, evitar graves incidentes entre os peregrinos e as autoridades locais. Com a morte de seu pai, em 1912, recebeu Malba Tahan uma grande herança; abandonou então o cargo que exercia em El-Medina e iniciou uma longa viagem através de varias partes do mundo.” Lendas do Deserto,1929.