A popularização da matemática
1937-1957
“O homem que calculava”
Passados alguns bons anos de magistério, depois de publicar, em 1934, seu primeiro título de recreações matemáticas, o livro, “Matemática Divertida e Curiosa”, assim como diversos livros escolares, Julio Cesar conseguiu a primeira edição da obra que efetivamente o consagrou como o mais destacado professor de Matemática de seu tempo. “O homem que calculava – é uma obra de ficará salvo das vassouradas do tempo, como a melhor expressão do binômio ciência e imaginação”, profetizou o amigo Monteiro Lobato. De fato, Malba Tahan reuniu o saber matemático e os contos árabes em uma extraordinária aventura, que apresenta a cada capítulo desafios e problemas sempre resolvidos pelo homem que calculava, o persa Beremiz Samir, principal protagonista da obra. “Best seller” na literatura brasileira, “O homem que calculava” continua vivo em milhares de salas de aula do Brasil, alcançando mais de 80 edições desde a primeira, publicada em 1937.
Conto dos 35 camelos
Em seus contos, Malba Tahan conseguia reunir em uma só narrativa, aventura, romance, fantasia, informações históricas e culturais, jogos e raciocínios matemáticos. Suas histórias, inclusive, sempre apresentavam um final surpreendente, não raro de teor moral ou filosófico, para a formação dos jovens leitores. O exemplo mais conhecido, que talvez melhor ilustre a criatividade narrativa de Malba Tahan, é o da divisão da herança de 35 camelos entre três irmãos. Nesse conto, o primeiro irmão deveria receber a metade do número dos camelos, o segundo, um teço, e o terceiro, um nono. Quando Beremiz Samir, do “O homem que calculava”, acrescentou aos 35 camelos da herança, um camelo que tomou emprestado, as divisões por 2, 3 e 9, inexatas, tornaram-se possíveis, dando 18 camelos para o primeiro irmão, 12 para o segundo e 4 para o terceiro, que somados totalizaram 34 camelos. Feita a divisão, sobraram misteriosamente 2 camelos, se comparados aos 36 do início da conta. Assim, Beremiz Samir resolveu o problema da divisão dos camelos entre os irmãos e ainda pôde argumentar a seu favor. Ele devolveu o camelo que havia tomado emprestado e recebeu o camelo restante como pagamento pelo serviço de calculista. Sem dúvida, é uma história surpreendente, com desfecho justo e inteligente!
Dom da palavra!
Um dos principais traços do professor Julio Cesar era o dom da palavra. Suas aulas e palestras encantavam a todos. Em setembro de 1937, ele foi nomeado, por concurso público, Professor Catedrático da disciplina de Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal. Conforme relato de antigos alunos, as aulas do professor Mello e Souza eram muito concorridas. Estudantes de diversas disciplinas permaneciam de pé, no fundo da sala, para assistir à magistral preleção. Ele ministrava suas aulas com extraordinária eloquência, simpatia e cultura.
Muito além das salas de aula
A atuação de Malba Tahan foi muito além da sala de aula. A partir de 1940, ele iniciou uma longa caminhada, proferindo palestras e ministrando cursos para professores, em mais de 200 cidades brasileiras. Nessa mesma década, destacam-se três iniciativas inovadoras de Malba Tahan: a criação da Universidade do Ar, em 1941, junto à Rádio Nacional, projeto pioneiro do ensino a distância no Brasil, o apoio à criação do Monumento à Matemática, na cidade de Itaocara, RJ, e a criação e direção da Revista “Al Karismi”, de recreações matemáticas, publicada de 1946 a 1951. Nos novos meios de comunicação da época, registrou-se, também, a participação de Malba Tahan em programas da rádio Mairink Veiga, da TV Tupi e no Canal 2, de São Paulo. Alguns de seus contos foram, inclusive, radiofonizados. O empenho de Malba Tahan em popularizar a Matemática foi muito grande. Depois da revista “Al Karismi”, os contos de inspiração árabe foram dando lugar, nos jornais, às colunas de recreações matemáticas. Em 1955, no Diário “A Noite”, Malba Tahan estreava a “Matemática Divertida e Curiosa”, talvez a primeira coluna do gênero no mundo.
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Malba Tahan entra em cena – 1925-1937
Educação Matemática – 1957-1974